Bose e o Crescografo

Jagadis Chandra Bose

Bose foi um cientista indiano, e desenvolveu um aparelho chamado Crescrógrafo que permite ampliar dez milhões de vezes. O microscópio aumenta apenas alguns milhares de vezes e, apesar disso, deu impulso vital à ciência biológica. O crescrógrafo desvenda incalculáveis horizontes.

No livro Autobiografia de um Yogue de Parahamansa Yogananda , há um capitulo sobre Bose, onde se lê:

Estudei em Cambridge. Admirável é o método ocidental de submeter toda teoria à escrupulosa verificação experimental! Tenho aliado sempre o procedimento empírico ao dom de introspecção, que é minha herança oriental. Juntos, os dois processos me permitiram sondar os silêncios de reinos da natureza, incomunicáveis há longo tempo.Os reveladores gráficos de meu crescrógarfo são provas, aos olhos mais céticos, de que as plantas possuem um sistema nervoso sensível e uma vida emocional variada. Amor, ódio, alegria, medo, prazer, dor, excitabilidade, estupor e inúmeras outras reações a estímulos são tão universais nas plantas como nos animais.

Na inauguração do Instituto Bose em Calcutá, ele disse:

No decorrer de minhas pesquisas, fui inconscientemente levado às fronteiras da física e da fisiologia. Para meu espanto, descobri que as linhas limítrofes se desvaneciam e que pontos de contato emergiam entre os reinos do vivo e do não – vivo. A matéria inorgânica foi percebida como algo não inerte; vibrava intensamente sob a ação de forcas numerosas.

Uma reação universal parecia colocar o metal, o vegetal e o animal sob a mesma lei. Todos exibiam essencialmente os mesmos fenômenos de fadiga e depressão, com possibilidades de recuperação e de estimulo, bem como a permanente falta de reação associada à morte. Cheio de assombro diante dessa fantástica generalização, foi com grandes esperanças que anunciei minhas descobertas para a Royal Society – descobertas demonstradas por meio de experiências. Os fisiologistas presentes, porém, me aconselharam a limitar minhas pesquisas ao campo da física, onde reconheciam meu sucesso, em vez de invadir os seus reinos em conserva. Sem querer, eu me extraviara nos domínios de um desconhecido sistema de castas e ofendera sua etiqueta.

Um inconsciente preconceito teológico apresentou-se também: o que confunde ignorância com fé. Freqüentemente esquecemos que Aquele que nos cercou com o mistério da criação, sempre em evolução, deu-nos também o desejo de questionar e de entender. Incompreendido pelos outros durante muitos anos, finalmente entendi que a vida de um devoto da ciência esta inevitavelmente repleta de esforços intermináveis. Cabe a ele lançar sua vida em ardente oferenda – encarando perda e ganho, sucesso e fracasso, como a mesma coisa.

O trabalho já realizado pelo laboratório Bose sobre a reação da matéria e sobre as inesperadas revelações da vida vegetal, descortinou vastas áreas de pesquisa na física, na fisiologia, na medicina, na agricultura e até na psicologia. Problemas até então encarados como insolúveis são agora trazidos à esfera da investigação experimental. Todos os cientistas criativos sabem que o verdadeiro laboratório é a mente, onde as leis da verdade são descobertas por trás das ilusões.

Com a publicação regular de nossas atividades do Instituto, as contribuições indianas chegarão ao mundo inteiro. Tornar-se-ão propriedade publica. Nenhuma patente será requerida. O espírito de nossa cultura nacional exige que estejamos para sempre livres da profanação de utilizar o conhecimento apenas para ganho pessoal.

Há vinte e cinco séculos, a Índia acolhia estudiosos do mundo inteiro, nas antigas universidades de Nalanda e Taxila.

Embora a ciência não seja nem do Oriente, nem do Ocidente, mas internacional em sua universalidade, a Índia está especialmente capacitada para fazer grandes contribuições. A ardente imaginação indiana que pode, de um conjunto de fatos aparentemente contraditórios, extrair uma nova ordem, é mantida sob controle pelo habito da concentração. Mas esta restrição confere à mente o poder de manter-se na busca da verdade com infinita paciência.

A estrutura atomica da materia era bem conhecida pelos antigos hindus. Um dos seis sistemas da filosofia hindu é o Vaisesika, da raiz sanscrita visesas, “individualidade atômica”. Um dos mais importantes comentaristas do Vaisesika foi Aulukya, também chamado Kanada, o “comedor de átomos” nascido há cerca de 2800 anos.

Em um artigo escrito por Tara Mata na revista East-West de abril de 1934, foi apresentado um resumo dos conhecimentos científicos do Vasesika: “ Embora a “teoria atômica” moderna seja em geral considerada um novo progresso cientifico, ela foi brilhantemente exposta , há muitíssimos anos por Kanada, o “comedor de átomos”. O termo sânscrito anus  traduz-se corretamente como ‘átomo’, na posterior acepção literal grega de ‘não cortado’ ou indivisível. Outras explanações cientificas dos tratados Vasesika, de era anterior a Cristo, incluem: [1] o movimento das agulhas em direção aos imãs; [2] a circulação da água nas plantas; [3] akash ou éter, inerte e sem estrutura, como base transmissora das forças sutis; [4] o calor solar como causa de todas as outras formas de calor; [5] o calor como causa da alteração molecular; [6] a lei da gravidade, causada pela propriedade, inerente aos átomos terrestres, da força de atração, causa da queda dos corpos; [7] a natureza cinética de toda energia; toda causa sempre tem origem  no consumo de energia ou na redistribuição de movimento;[8] dissolução universal por meio da desintegração dos átomos; [9] a radiação do calor e dos raios luminosos, partículas infinitamente pequenas, precipitando-se em todas as direções com inconcebível velocidade (a moderna teoria dos ‘raios cósmicos’);[10] a relatividade do tempo e do espaço.

Vasesika atribuía a origem do mundo aos átomos, eternos em sua natureza, isto é, em suas peculiaridades ultimas. Considerava que os átomos possuíam movimento vibratório continuo. (…) A recente descoberta de que um átomo é um sistema solar em miniatura não seria novidade para os antigos filósofos do Vasesika, que também reduziram o tempo a seu derradeiro conceito matemático, descrevendo a menor unidade de tempo (kala) como o período que um átomo leva para percorrer sua própria unidade de espaço”.

Yogananda nos conta que visitou o Instituto no dia seguinte:

– Ligarei o crescrógrafo a esta samambaia; a ampliação é tremenda. Se o rastejar de um caracol fosse ampliado na mesma proporção, a criatura pareceria ter a velocidade de um trem expresso. Pequenos movimentos de vida eram agora claramente perceptíveis; a planta crescia lentamente diante de meus olhos fascinados. O cientista tocou uma ponta da samambaia com uma vareta de metal. A pantomina que se desenvolvia parou bruscamente, retomando seus eloqüentes ritmos logo que a vareta foi retirada.

– Você viu como ate uma leve interferência exterior é prejudicial aos tecidos sensíveis – comentou Bose. Observe agora: administrarei clorofórmio e , a seguir, um antídoto.

O efeito do clorofórmio foi deter todo o crescimento; o antídoto o fez reviver. Meu companheiro introduziu um instrumento cortante numa parte da samambaia; a dor manifestou-se por agitações espasmódicas. Quando ele passou uma lamina parcialmente pela haste, a sombra agitou-se com violência e, em seguida, imobilizou-se no ponto final da morte.

– Cloroformizando antecipadamente uma arvore enorme, consegui um transplante bem sucedido. Normalmente, esses monarcas da floresta morrem logo depois de uma mudança. Os gráficos de meus delicados aparelhos provaram que as arvores tem um sistema circulatório; os movimentos da seiva correspondem à pressão do sangue no corpo dos animais. A ascensão da seiva não é explicável pelas teorias mecânicas comumente propostas, como, por exemplo, a atração capilar. O fenômeno foi revelado pelo crescrógrafo como atividade das células vivas. Ondas peristálticas irradiam-se de um tubo cilíndrico que se estende ao longo da arvore e funciona como um coração de verdade! Quanto mais nosso conhecimento se aprofunda, mais admirável é a prova de que um plano uniforme liga todas as formas na diversificada natureza.

O grande cientista indicou outro instrumento Bose.

-Mostrar-lhe-ei experiências com um pedaço de estanho. A força vital nos metais reage negativa ou positivamente aos estímulos. A tinta registrará as varias reações.

Quando o professor aplicou clorofórmio no metal, os registros vibratórios cessaram, recomeçando à medida que o estanho voltava lentamente a seu estado normal. Meu companheiro administrou-lhe uma substancia química venenosa. Simultaneamente ao ultimo tremor do estanho, a agulha, de maneira dramática, registrou no gráfico a noticia da morte. O cientista disse:

– Os instrumentos Bose demonstraram que metais como o aço, usado em tesouras e maquinário, estão sujeitos à fadiga e recuperam eficiência após pausas periódicas. A pulsação da vida nos metais sofre danos sérios, e pode até ser extinta, quando se emprega correntes elétricas ou pressão muito forte.

Inventando um complicado instrumento, o “cardiógrafo de ressonância”, Bose continuou em suas extensas pesquisas sobre as incontáveis plantas da Índia. Enorme e insuspeitada farmacopéia de drogas uteis foi descoberta. O cardiógrafo, de uma precisão infalível, registra no gráfico até um centésimo de segundo. Os registros de ressonância medem pulsações infinitesimais nas estruturas humanas, animais e vegetais.

– Administrado simultaneamente a uma planta e a um animal, um remédio apresenta, segundo demonstram os registros paralelos, uma espantosa unanimidade de resultados – assinalou.  – Tudo o que existe no homem foi prefigurado na planta. Experiências com os vegetais contribuirão para diminuir o sofrimento de homens e animais.

Anos mais tarde, as descobertas pioneiras de Bose foram corroboradas por outros cientistas. O New York Times assim noticiou um trabalho feito em 1938 na Universidade de Columbia:

(…) Os doutores K.S.Cole e H.J. Curtis noticiaram a descoberta de que a estrutura unicelular da nitela, planta de água doce comumente usada em aquários de peixinhos dourados, é virtualmente idêntica a estrutura das fibras nervosas. Também descobriram que as fibras da nitela, quando excitadas, propagam ondas elétricas semelhantes em tudo, exceto em velocidade, às ondas das fibras nervosas dos homens e animais. Verificou-se que os impulsos nervosos elétricos nas plantas são muito mais lentos que nos animais. Os pesquisadores de Columbia, por isso, aproveitaram a descoberta para filmar em câmara lenta a passagem dos impulsos elétricos nos nervos.

Assim, a planta nitela pode se tornar uma espécie de pedra de Roseta para decifrar os segredos hermeticamente guardados na zona limítrofe entre a mente e a matéria.

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